26 – Vivegetante

Superação do cio biológico: A história humana (individual e coletiva) é determinada pela superação do cio biológico da fêmea em busca do cio psicobiofísico.          A Sabedoria Popular sempre considerou a dimensão da Energia Material Humana na sua visão de mundo.          O afluxo sanguíneo é que gera a potência genital, seja no homem, seja na mulher.          As doenças do corpo e da mente são alimentadas pela energia material humana mortal/negativa.          Fusão genital é o modelo de relação sexual onde homem e mulher vivenciam sua potência genital.          O modelo de vida (individual ou coletiva) da auto-regulação pressupõe a consciência e o enfrentamento da realidade do pecado.          A noção de pecado originária da Sabedoria Popular é porque essa sempre considerou a dimensão da energia material humana na sua visão de mundo.          Para a Sabedoria Popular pecado é a transgressão de alguma lei que rege a natureza humana.          Potente é quem, mais do que em suas capacidades, tem consciência de seus limites e os respeita, buscando sua superação.          A vivência da virtude nos faz potente e a vivência do pecado nos deixa impotente para amar e gozar a vida.          Não existe pessoa desorganizada: uns se organizam para ter paz, outros para ter aflição.
25 – Sem cor-ação
02/04/2020
27 – Um capiau em Paris – 14 crônicas
02/04/2020

Só com o cultivo dos nossos sentidos podemos nos tornar agentes transformadores da realidade

VIVEGETANTE

                                   G. Fábio Madureira

 

 

Não nasci numa sexta-feira em que Ele morreu. Não. foi num desses quaisquer dias em que nossas mães sentem as dores e não podem escolher nem dia, nem hora, nem lugar. Nasci naturalmente numa bela manhã de estação. Era domingo.

Embora meu natal fosse circunstaciado normalmente sou um normal. Um mula-sem-cabeça. Não saí assim. A história é complicada. Ouçam-na…

Antes quero lhe dizer que quando tal fato aconteceu todos os jornais que se prezam noticiaram em absoluta primeira mão. E prezar-se você sabe que é igual a não-viver. Por sua vez viver já possui em todos os dicionários que não se prezam um novo sinônimo: vivegetar.

Não sei porque. Mas minha cabeça sintetizava todas as funções dos demais órgãos. Se via uma erva-de-passarinho na laranjeira era ela quem a arrancava. Tendo uma pedra no meio do caminho, minha cabeça a chutava para beirada. Olhem que, um dia, certo mosquito pousou em meu copo de leite e matei-o com uma cabeçada. Pois foi nesse dia exatamente que começaram a me cortar a cabeça. Não foi fácil, não. A navalha da primeira guilhotina partiu. A segunda idem. A terceira conseguiu dar um talho. Só na quarta deceparam-na completamente. Daí até aqui ela não exerce mais nenhuma função. Nem as suas nem as de seus próprios órgãos (olfativo, auditivo, visual e gustativo).

Não posso mais falar nem mentira, quanto mais verdades.

Ouvir até que ainda me deixaram um tímpano e este não gosta de vibrar atualmente.

Quanto aos olhos que falta me fazem eles? São feitos para se ver alguma coisa. Mas não é necessário. Esqueceram-se de minhas mãos que são suficientes porque, embora não vejam, sentem tudo que meus castanhos enxergariam.

E cheirar? Posso? Não precisa. Meus pés fazem às vezes de nariz. Sensibilizam-se a todas as catingas que aqueles que ainda têm cabeça, mas por serem cabeças as têm na barriga, não podem sentir.

Pelo menos o estar sem cabeça me alegra em parte. É que não podem usar cabresto em mim. Porque se se coloca cabresto em mulas-sem-cabeça, ele escorrega e tudo vai praguabaixo.

Os tais jornais noticiaram ainda que a cabeça foi colocada em uma gaiola de ferro sobre um poste. Sempre a vejo.

Só uma coisa peço, porém, a quem me cortou. Deixe-me com as mãos e os pés. Eles me bastam e se bastam. Com eles posso sentir quase como a cabeça. E mesmo não podendo pensar, vivegetarei até que um dia, mãos e pés unidos, irei quebrar a gaiola para que possa viver.