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HÁBITO: MATERIALIZAÇÃO DO CONHECIMENTO1
Conscientes de que toda nossa formação e toda nossa organização sócio-cultural se pautam pelo modelo da lógica formal, que sustenta e reproduz a relação fêmea impotente x macho mecanicamente potente, resta-nos saber que condicionantes internalizamos para reproduzir esse modelo a fim de que possamos superá-lo.
Inicialmente diria que o ideal seria que pudéssemos apagar, tal como se faz na computação, todos os nossos programas e aplicativos, ficando apenas com o programa operacional. Isso porque todas as informações que temos, tanto em nível do consciente quanto do subconsciente, alimentam essas condicionantes. São essas informações (conhecimentos) que sustentam e conformam os nossos próprios hábitos. Portanto, não se trata de mudança de comportamento. Trata-se, antes, de mudança de hábitos, pois são eles que consubstanciam os valores produzidos e reproduzidos por esse modelo, todos reprodutores do medo, dando sustentação aos nossos comportamentos.
MANIFESTO DA EDUCAÇÃO DA LÓGICA DO CAPITAL
Vivemos hoje uma educação que transmite conhecimentos aos indivíduos para:
Ter que usar sapato como forma de proteção
para não sentir o chão;
Ter que escovar os dentes sistematicamente
para conviver com o medo da cárie e do mau hálito;
Ter que tomar banho, como obrigação,
para se sentir limpo consigo e com o outro;
Ter que usar roupa como proteção em relação ao meio
para sentir a sensação de estar à vontade;
Ter que se alimentar de acordo com os sugeridos valores nutritivos
para acreditar estar cuidando bem de sua saúde;
Ter que tomar vacina
para se sentir imune às epidemias;
Ter que fazer uso de medicamentos
para poder conviver com as doenças;
Ter que depender do médico
para saber lidar com o corpo;
Ter que usar perfumes e cosméticos
para sentir a pele gostosa;
Ter que fazer ginástica
para se sentir forte e saudável;
Ter que fazer sacrifícios
para conseguir a pureza d’alma;
Ter que fazer esforço
para poder “gozar” nas relações;
Ter que fazer uso de anestésicos
para não sentir as dores;
Ter que cultivar o medo da morte
para acreditar estar vivendo intensamente a vida;
Ter que fazer seja lá o que for
obedecendo os padrões esperados de criatividade;
Ter que viver em função da quantidade
para acreditar estar atingindo a dimensão da qualidade;
Ter que viver ocupado
para se sentir como alguém produtivo;
Ter que se sentir senhor de pessoas ou coisas
para não ser senhor de si mesmo;
Ter que viver competindo
para sentir a sensação de busca da perfeição;
Ter que consumir de acordo com a moda
para se sentir socialmente aceito.
Ao reproduzirmos esses hábitos sem espírito crítico, estamos reforçando e ampliando a lógica do capital e do medo e o modelo da racionalidade mecânica, não só em nós mesmos como na sociedade como um todo.
Por outro lado, para analisá-los com espírito crítico, faz-se mister que tenhamos acesso a um outro modelo de conhecimento que seja construído a partir de sua antítese.
No próximo capítulo iniciaremos uma reflexão que pretende dar cabo dessa tarefa, explicitando as bases de um outro modelo de conhecimento, o da racionalidade mágica.
1Esse texto constitui o XVIII capítulo do livro “Racionalidade da Sabedoria Popular: energia material humana e sexualidade”, de G. Fábio Madureira.
Veja os hábitos que materializam a lógica do trabalho e a racionalidade mágica