38 – Ciência e Romantismo

Superação do cio biológico: A história humana (individual e coletiva) é determinada pela superação do cio biológico da fêmea em busca do cio psicobiofísico.          A Sabedoria Popular sempre considerou a dimensão da Energia Material Humana na sua visão de mundo.          O afluxo sanguíneo é que gera a potência genital, seja no homem, seja na mulher.          As doenças do corpo e da mente são alimentadas pela energia material humana mortal/negativa.          Fusão genital é o modelo de relação sexual onde homem e mulher vivenciam sua potência genital.          O modelo de vida (individual ou coletiva) da auto-regulação pressupõe a consciência e o enfrentamento da realidade do pecado.          A noção de pecado originária da Sabedoria Popular é porque essa sempre considerou a dimensão da energia material humana na sua visão de mundo.          Para a Sabedoria Popular pecado é a transgressão de alguma lei que rege a natureza humana.          Potente é quem, mais do que em suas capacidades, tem consciência de seus limites e os respeita, buscando sua superação.          A vivência da virtude nos faz potente e a vivência do pecado nos deixa impotente para amar e gozar a vida.          Não existe pessoa desorganizada: uns se organizam para ter paz, outros para ter aflição.
37 – Tecnologia e sabedoria
02/04/2020
39 – Lógica formal x lógica dialética
02/04/2020

A ausência do "eu" no atual modelo científico é uma forma de mitificar o autor

Ciência e Romantismo

                                                                  G. Fábio Madureira

 

Qual o significado da ausência do “eu” na ciência ocidental? Principalmente nas chamadas ciências humanas? Também, antes do Romantismo, a presença “eu” era condenada na literatura. Aí do inspirado que se metesse a infringir esta regra! Ou nunca seria autor com obras publicadas. Ou ia para os tribunais literários da inquisição onde a sentença já estava pré-proclamada: “Morte ao réu!”

Existem várias explicações das causas e conseqüências deste fenômeno na literatura. E o que explicaria este idêntico fenômeno na atual ciência ocidental?

Como que num meio de culto ao individualismo pode haver uma ciência que escape a esta cultuação?

O culto do “eu”, do indivíduo, que tomou impulso com o romantismo literário, cujas bases imediatas se assentam na Revolução Francesca, não se estaria fazendo presente na atual ciência ocidental pela sua própria ausência formal?! Isto é, a tal “impessoalidade” ou “objetividade cientifica” não estaria colocando em evidência a pessoa do “cientista”? O método mais fácil para mitificar um fenômeno é esconder-lhe as causas. Para que um médico seja cultuado como um “enviado dos céus”, basta que ele, não se identificando como médico, faça algumas curas. “To be or not to be”, eis a questão mais bem posta. O não também diz. E como diz! Com a palavra a experiência de cada um.

Pessoal e modestamente, eu acho muito interessante este problema de Ciência e Romantismo. Ensinam-nos em ciências humanas que:

1- Cientificamente o homem é resultado do meio ambiente X hereditariedade.

2 – Para que uma análise de uma realidade dada seja considerada científica faz-se mister levar em conta as variáveis que interferem nesta análise.

Mas, e as variáveis de tais analistas, de tais cientistas?! Normalmente, não as vemos explícitas. Ou será que o cientista foge à regra 1? Pelo que me consta, a lei 1 não tem exceções. Logo, ou ela está errada, ou os tais cientistas estão procedendo cientificamente errado. E entre acreditar nestes “cientistas” ou na ciência, eu fico com a última, pois ela está do lado do homem; é dele (pertence), tem sua origem nele e é para ele.

O que significa então esta atitude não-científica de tais “cientistas”? Qual a sua explicação histórica?

É muito fácil analisar, explicar e criticar os outros “cientificamente”. Para isso temos os métodos mais aperfeiçoados, as técnicas mais requintadas, as máquinas mais encantadoras, … e os outros à vontade. O que, talvez, não seja muito fácil é se analisar, se explicar e se criticar a si mesmo cientificamente. “Vós sois capazes de ver um cisco no olho do vosso próximo, mas não perceberdes a trave do vosso”. (Cristo) “Médico, cura-te a te mesmo”. (Povo)

Isso significa questionar-se. Ver, talvez, coisas que não gostaríamos de ver. Isso nos leva a mudanças. E “tá tão bom deste jeito! Somos tão seguros! Temos tanta tranqüilidade! É tão bom trabalhar cientificamente! Para a ciência não contam os juízos de valores. E além do mais, existem tantos outros dando sopa por aí!…

– “Por isso, meu filho, seu trabalho até que é interessante. Enfoca problemas importantes, atuais, levando em conta novos dados. Mas… é uma pena! Está muito pessoal, muito acientífico! Você tem que tentar ser o mais impessoal possível. Eu noto que o que lhe falta é um maior domínio dos métodos, das técnicas e da linguagem cientifica. Deixa estar que você vai aprender rápido! Não se desanime! Ciência é um aprendizado não muito fácil. Mas vá em frente, meu filho! Você promete…

(…)

– Mas, professor…

– “Não, meu filho. Tem uma coisa que você tem que entender. Quanto mais um objetivo é audacioso. Quanto mais o assunto é motivante. Mais difícil se torna o trabalho cientifico. Às vezes mesmo quase impossível. No seu caso, por exemplo, nós o aconselhamos a restringir mais seus objetivos e, conseqüentemente, o campo de análise.

(…)

– E assim, deste jeito, agora…

– “Não, meu filho. Tente entender. O bonito não conta para a ciência”.

(…)

– “Aí. Assim. Agora você tem que determinar a sua hipótese de base”.

– Mas eu já lhe falei, professor. Minha hipótese de base é que não existe cultura melhor do que outra…

– “Oh! Meu filho. Mas isso nunca foi hipótese de base cientificamente falando. Isso não passa de um juízo de valor. E para que um trabalho seja científico, nele não pode interferir juízos de valor.

– …!!!???…!!!???…!!!???…!!!???…

– “Agora sim! Agora está melhor! Só que a primeira parte não nos interessa. Enquanto cientista não nos interessa saber nem da sua  vida nem da sua história. Como cientista que você quer ser, sua história não conta. Para que a gente possa se tornar amigo pode ser até bom. Mas para a ciência isto não quer dizer nada. É pura literatura! Poderíamos dizer que seria um novo estilo de época: uma linguagem científica na literatura. É até uma boa idéia, um bom achado! Mas… do ponto de vista científico… Ah! Escute. Quanto à segunda parte, você tem que dar mais uma esmerilada nela para que fique mais impessoal ainda. Você já está sentindo? De fato não está tão audacioso como antes. Mas esta ficando um trabalho de alto teor científico!”

E na defesa de tese eu tirei todos os 10 com os louvores. Mas, hoje, relendo a minha tese, o único exercício que faço é de leitura, de treino da paciência (pessoalmente acho mais agradável e eficaz jogar o jogo da paciência) e de convivência com os métodos e técnicas “científicos”. Sua única utilidade útil para mim ainda é o “Martyrum lo??jum romanum” do final: uma bibliografia das mais ousadas e respeitadas.

Por isso, meu caro mestre, acho muito interessante a idéia que o senhor me deu de criar um novo estilo literário: uma literatura com linguagem científica. Mas, meu bom mestre, não ouso tomar a iniciativa. Pelo que sei e pelo que não sei, esta mistura não daria certo. Não teríamos mais literatura. E para mim, desde que tenhamos uma atitude cientifica diante do universo (físico, biológico, social, psicológico etc e tal), já estamos no campo da ciência. Por isso, meu sábio mestre, humildemente eu lhe sugiro, como literato ou cientista, não me importa:

Inicie o movimento romântico dentro da ciência. Se o “eu” é digno de culto. (E os românticos acreditavam abertamente nisso). Se a ciência está à procura da verdade. Por que não passar a fazer parte da ciência, de uma maneira explicita e honesta, o “eu” em toda a sua dimensão científica e humana? Por que não tentar entender cientificamente o seu papel dentro da ciência? E quem melhor do que eu pode entender o meu eu? Só que a conclusão não é das mais auspiciosas quem tem tantos outros à sua disposição.

Inicie, pois, meu caro professor, este movimento dentro da ciência. Quem sabe um movimento romântico dentro da ciência não a levaria a uma real desromantização?

Meu bom mestre, não é difícil para um “cientista” questionar todo um passado de 40 anos dentro da ciência. Talvez o que atrapalha é constatar que só aí ele começa de fato a ser cientista.

 

Paris, 29/01/1975