Quando ainda predominava a ideologia da sabedoria popular, o melhor elogio a alguém era chamá-lo de enxuto. Em termos de elogio, equivale ao hoje usual e propalado sarado.
Essa equivalência, porém, é só quanto ao seu valor como elogio. Enquanto significado, são completamente diferentes. E, como sinal dos tempos, representam duas ideologias completamente distintas.
Sarado é alguém que através de exercícios físicos, geralmente associados a esforço, adquire uma compleição admirável, esbanjando músculos e uma aparente vitalidade. É um estado que, além de visível, deve chamar a atenção. Infelizmente, porém, é também um estado que se tem demonstrado bastante fugaz. Logo logo, vão chegando os anos e com eles a flacidez muscular e a decadente aparência.
Enxuto era um estado de espírito que se expressava pelo corpo. Representava vitalidade e força, sem que necessariamente estivesse ligado a esforço. Resultava geralmente de uma maneira de vida simples e em tudo comedida, só cultivando hábitos saudáveis. Sem alarde, anunciava a coexistência harmoniosa entre saúde e beleza, mas, sobretudo, a importância da nobreza de espírito. Nobreza de espírito que se adquire e é alimentada por uma postura de quietude que leva o indivíduo a viver se assuntando e assuntando o mundo que o rodeia. É essa noção de enxuto que inspirou a criação dessa prática chamada de lobosofia. Não pretendemos reinventar a roda. Muito já foi criado e de tudo nos aproveitaremos. Mas, sobretudo, lançaremos mão das experiências deixadas pela sabedoria popular, em suas diversas expressões culturais, e daquelas teorias que também se inspiraram nessa mesma sabedoria.
A lobosofia tem a presunção de ser uma resposta atualizada a tudo isso. Nela aproveitamos ensinamentos das teorias de meditação, de relaxamento, de auto-massagem (do-in) e da antiginástica. Mas, sobretudo, usamos de tais ensinamentos relidos a partir da dimensão da energia material humana. É a essa releitura que damos o nome de lobosofia, cuja principal finalidade é aprendermos a nos livrar das cargas de energia material humana negativa/mortal, angariada no nosso modo de viver o dia-a-dia, e, geralmente, alojada nos nossos lobos cerebrais. Daí a busca de sabedoria (sofia) sobre nosso corpo e sobre nós mesmos, tentando decifrar o que vai nos nossos lobos.
São exatamente essas cargas de energia material humana negativa/mortal que sustentam e alimentam a grande maioria dos nossos atuais hábitos, criados e reproduzidos pelo atual saber hegemônico, que nega a dimensão energética da matéria. E são esses hábitos, reprodutores do medo, que vão nos tornando, progressiva e paulatinamente, doentes e impotentes para amar. Amar não apenas os outros, mas sobretudo e necessariamente a nós mesmos. E é esse o principal objetivo da lobosofia: superação dos hábitos alimentadores de medo para aguçar a capacidade de cada um a se amar cada vez mais. Quem não se ama, não ama nem consegue ser amado.
Para isso, vale a pena explicitar nosso entendimento de amor, pois, pelo seu uso atual, quer dizer tudo e não quer dizer nada.
Para nós amor não é nada fantasioso. Não fica apenas no nível das intenções. Pelo contrário, é algo bem concreto, pois é a expressão da energia material humana positiva/vital. E essa energia tem características físico-químicas bem definidas. Ela se expressa através de um calor refrescante, de um perfume inebriante, de uma oleosidade envolvente e de uma doçura gostosa. Mas, sobretudo, essa energia positiva/vital é leve e gera leveza e caracteriza o chamado ser erótico.
Essas características (calor, perfume, oleosidade e doçura) se revelam pela nossa pele. Daí se dizer popularmente, e de forma acertada, que amor é uma questão de pele. E nossa capacidade de amar é proporcional ao cultivo que fazemos dessas características.
Através delas podemos sacar, de uma forma concreta, o grau de veracidade do amor que tenho por mim ou pelo outro. Ainda mais quando sabemos que a energia material humana negativa/mortal tem as características exatamente opostas: frígida, fétida, seca e salamarga. Era isso que orientava a percepção de amor que tínhamos quando criança e que nos foi sendo corrompida por todo um processo de repressão e de falso amor. Recuperar essa noção numa dimensão adulta, aprendendo a se livrar da negativa/mortal e a cultivar a positiva/vital, é, portanto, o principal objetivo da lobosofia, que, para ser coerente, se alicerça no anti-esforço.
O esforço nasce da busca de um modelo que esteja fora de nós mesmos. Se a referência for em nós mesmos (referência em si), em termos de ritmo e de capacidade, o esforço não faz sentido e a busca de prazer passa a ser o móvel de nossa ação.
E um dos princípios básicos dela é que esforço não se almeja; suporta-se, numa busca incessante de sua superação. O móvel principal da ação humana deve ser a busca do prazer. Afinal, vida é prazer. Se por algum motivo nela pintar alguma dor, cabe à inteligência humana se aperfeiçoar para aprender a dela se livrar.